A chupeta e os dentinhos

O
uso de chupetas pode não só prejudicar a posição dos dentinhos, mas
também de todas as estruturas musculares com que estes se relacionam,
podendo haver desequilíbrios que repercutirão na fala, respiração,
deglutição, mastigação e até no sorriso (estética) da criança. Por isso,
antes de tomar esta decisão, deve-se buscar informações para que sejam
usadas de forma criteriosa.
O bebê precisa usar chupeta?
Os bebês já nascem com a função de sucção plenamente
desenvolvida, como muitos papais podem constatar nos rotineiros exames
de ultra-som. Ao mamar, a criança procura atingir com a sucção a
satisfação alimentar e muscular, o que nem sempre é conseguido
simultaneamente. O bebê que mama ao peito (que exige um esforço
muscular complexo) normalmente acaba saciando sua necessidade de sucção
e alimentar ao mesmo tempo, e fica satisfeito. Porém, pode-se atingir a
plenitude muscular e não alimentar, o que fará com que o bebê pare de
mamar mas logo sinta fome, neste caso deve-se insistir para que não se
distraia ou adormeça durante o aleitamento. E, ao contrário, pode-se
atingir a plenitude alimentar mas não neural (muscular), o que é mais
comum nas crianças que usam mamadeira, por exigir um movimento muscular
mais simples, podendo necessitar de complemento para esta sucção.
A
chupeta deveria preferencialmente ser evitada, já que crianças que
mamam ao peito normalmente não precisam deste complemento e, se
precisarem, pesquisadores acreditam poder ser complementada com a
própria amamentação. O uso de bicos artificiais pode levar ao fenômeno
da "confusão de bicos", uma forma errônea do bebê posicionar a língua e
sugar o peito, levando-o ao desmame precoce. Tanto é, que hoje já é
obrigatório os fabricantes alertarem nas embalagens: "A criança que
mama ao peito não necessita de mamadeira, bico ou chupeta. O uso da
mamadeira, bico ou chupeta prejudica a amamentação e seu uso prolongado
prejudica a dentição e a fala da criança." Trabalhos científicos
comprovam que quando uma criança usa chupeta vai menos ao peito.
Outra razão para o uso da chupeta seria evitar o
hábito de sucção de dedo, por trazer danos mais severos ao
desenvolvimento buco-facial e ser um hábito mais difícil de ser
removido. Para os bebês que mamam ao peito acredita-se que o próprio
aleitamento deverá evitar o hábito do dedo e não a chupeta.
Assim, nem todo o bebê precisa usar a chupeta. A chupeta existe
justamente para complementar esta necessidade de sucção, e se for usada,
deverão ser respeitadas regras, para que não se instale um hábito.
O uso racional da chupeta
Se a família optar pelo uso da chupeta, deverão ser
conhecidos alguns aspectos importantes para minimizar os possíveis
transtornos causados por esta. Deverá ser considerada um "instrumento"
para realizar os exercícios de sucção, e não um brinquedo ou "parte do
vestuário" da criança.
Chupeta não é esparadrapo
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Frequência - o uso deverá ser mínimo, sendo
indicado só em momentos de stress ou para adormecer, tanto que seu nome
em inglês é "Pacifier" (pacificador), mas não frente a qualquer choro
do bebê. Sempre inspecione as causas do desconforto (fome, frio, fralda
suja, dor, saudade de beijinho e colinho da mamãe,...) antes de partir
para a chupeta. Muitos adultos a usam por não tolerarem o choro do
bebê.
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Duração - deverá ser usada apenas até o bebê
se acalmar ou adormecer. Quando normalmente ele a larga não deve ser
recolocada. Se a chupeta permanecer interposta entre os lábios, a
criança pode perder a "memória" muscular de permanecer com a boca
fechada, o que é fundamental para que respire corretamente pelo nariz.
-
Idade - com o amadurecimento da criança, a
sucção passa a ser substituída pela mastigação e sorção (tomar líquidos
no copo), o que envolve outros músculos, e deverão ser estimuladas
pelos pais. Assim, o uso da chupeta deverá ser interrompido assim que a
criança se mostrar desinteressada, o mais cedo possível. O "prazo"
para organizar a vida da criança sem a chupeta é até os dois anos,
quando a fala fica mais desenvolvida.
-
Tipo - podem variar em forma, tamanho e
material. A forma ideal é anatômica (aquela "achatada", antes chamada
"ortodôntica"), pois se adapta perfeitamente à cavidade bucal da
criança e permite um maior contato da língua com o palato durante a
deglutição. O disco plástico deverá ser côncavo (voltado para a
cavidade bucal) e com perfurações que evitem o acúmulo de saliva e a
conseqüente irritação da pele. De preferência sem argolas, para que não
se pendure correntes (evitando o risco de estrangulamento), nem
fraldas, e nem que a criança fique apoiando a mãozinha (prejuízo ao
lábio inferior). Observar para que a chupeta não seja colocada
invertida. O tamanho deve acompanhar a idade. O material de preferência
é o silicone, que deforma menos e é mais higiênico.
Quais as consequências do uso inadequado da chupeta?
O uso incorreto da chupeta, associado ao padrão
genético da criança, poderá produzir problemas bucais e de oclusão
(mordida), que podem ser: mordida aberta anterior (dentes de cima não
encostam nos de baixo); mordida cruzada posterior (a parte de cima fica
"apertada", mal desenvolvida, e não encaixa com a de baixo), dentes de
cima projetados para frente (e os de baixo para trás), alteração na
fala e no padrão de deglutição (por interposição lingual), alteração
dos padrões respiratórios, etc.
Como desestimular
Um bom truque é furar a ponta da chupeta para que
mude a sensação ao sugar. Tente delimitar o tempo de uso e o espaço
físico, mostrando ao bebê que a chupeta é só para "nanar", e portanto,
não sai do berço. Não colocar várias chupetas à disposição da criança,
pois facilita sua recolocação e pode estimular o uso. A remoção deverá
ser gradativa e bem conversada com a criança, sem ameaças nem punições.
A chupeta deverá então ser usada com estes cuidados,
para que não vire um hábito, nem tenha seu uso desnecessário. Mas
devemos nos lembrar que o hábito de sucção, quando instalado, poderá
estar relacionado a fatores emocionais, sendo sua remoção delicada,
relacionada ao desenvolvimento da criança e seu ambiente psicoafetivo.
Dra. Cintia P. U. Schames
Odontopediatra